Carta aos Professores do Ensino de Arte: Desafios na escolhas dos novos livros didáticos.

Estou muito aflito com a escolha dos novos livros didáticos de ARTE, que irão acompanhar mais 04 anos com os nossos alunos dos anos finais do Ensino Fundamental. Para esta escolha recebemos cerca de 05 coleções , e quase que não chegavam, alguns ainda tive o sucesso de conseguir a versão impressa, pois analisar tudo isso em pdf ou versão online, não estava tão agradável ao meu ritmo de trabalho.

Sou um cara que ainda me deixo levar o "julgamento" do livro pela "capa", quando se trata de ARTE o projeto gráfico do livro tem que ser atraente, com figuras bem impressas e destacadas, e não só um aglomerado de textos. Em todas as editoras tenho percebido pontos positivos e negativos, e lamento de coração por não podermos escolher de cada ano um livro de uma editora diferente, pois às vezes o que encontramos em uma editora, não tem lá no projeto do livro da outra.

Embora a proposta exija que um professor possa caminhar pelas 04 linguagens das Artes (Artes Visuais, Música, Teatro e Danças) isso tem sido um dilema tanto para os educadores como para os próprios autores conseguirem equilibrar esses eixos em suas publicações. Alguns preferiram mesclar e outros dividirem. Como habilitado em Artes Visuais, sem dúvidas vou escolher a coleção que se adapte a minha metodologia e formação, mas sem desprezar as demais áreas.

Antes de analisar uma obra, eu sempre começo pelo currículo e experiência dos autores. Confesso que sou bem criterioso (ou talvez seja "preconceituoso") em escolher autores que tenham licenciatura nas áreas das Artes, formações com pesquisa na educação básica e experiências também nessa perspectiva, e sou sincero a dizer que vejo uma disparidade bem notável, entre os autores que tenham essas experiências singulares, para aqueles que não são licenciados, que trabalham apenas em birôs de secretárias de cultura, projetos da administração pública ou professores de ensino superior e que há mais de 20 anos não conhecem o que é a realidade de conviver em sala de aula, da educação básica. Quem prega o que não vive, me deixa sempre um pé atrás.

Ainda acho desnecessário a vinda desses CDs nas coleções, quase ninguém usa mais mídia física, esse conteúdo poderia ser disponibilizado nas plataformas das editoras, para download, ou que não fossem CD's apenas com conteúdos de áudios, com ruídos de instrumentos musicais ou canções na maioria dela em baixa qualidade, sinto falta de um material alternativo com jogos digitais, apostilas com sugestões de atividades fora as do livro, avaliações escritas com questões abertas ou de múltipla escolha, com atividades interativas que realmente façam sentido o uso das novas tecnologias.

Por falar em produção escrita, há uma ausência em todas as coleções de questões interpretativas para complemento das nossas aulas. Acredito que os autores talvez devem achar que passamos todas as aulas de arte perguntando aos alunos porque o Azul do vestido da mulher da página 30 chamou mais a atenção dele do que o vestido vermelho do Pastoril da foto? Algumas perguntas chegam a subestimar a capacidade dos nossos alunos, até porque lá na frente, quando ele já tiver preparado para uma avaliação de criticidade maior, não vai exigir dele que saiba que o barbante não pode ser colado na garrafa perto do algodão, com cola branca.

E por falar em novas tecnologias, senti em boa parte das obras uma falta de conteúdos mais direcionados para essas novas tecnologias. Fotos de exposições não chamam mais a atenção do aluno. É preciso indicar diretórios de pesquisas para ter acesso a esses conteúdos. Vivi 25 anos para ver os Animes e Histórias em Quadrinhos ( que este último vi uma coleção desprezar) nos livros, e fiquei muito feliz, embora inseridas de maneira tímida. Falar de Origami, Kirigami e sem ressaltar as esculturas contemporâneas como o PaperCraft que pode ser trabalhado em sala, considero impossível. Capítulos sobre Jogos Digitais, e técnicas como Pixel Art também foram ausentes da boa parte das coleções. Comentar hoje sobre Música do Mundo e esquecer de citar o K-Pop é inaceitável. Ah, e a cor pigmento Vermelho não é mais primária, viu? E por aí vai.

Também sinto falta de pesquisas mais elaboradas sobre a Arte Brasileira, embora alguns autores e proponentes me disseram que a proposta foi deixar mais de se falar em Arte Européia e abrir mais um espaço para a nossa cultura, super aceitável, mas que ainda é distribuída de forma confusa e vaga por algumas coleções, infelizmente, sim. Há uma puxada básica de sardinha para destaques folclóricos de algumas regiões dos autores, a cultura nordestina mesmo é trabalhada de forma bem superficial.

Ainda acredito que do 6º ao 9º ano devemos tentar organizar os conteúdos seguindo uma linha do tempo histórica, contextualizar o presente sem conhecer o passado é como aprender equação de segundo grau sem saber somar e subtrair. As modalidades mais contemporâneas, como Performance também não pode ser jogada de cara para uma turma de 6º ano, onde até quem é pesquisador na área às vezes entra em conflito para definir o que é e de que se trata esta Arte.

Também, sinto uma falta de sensibilidade ou de metodologia de alguns autores em direcionar as suas coleções para a nossa realidade que é bem louca, num país onde apenas cerca de 8% tem formação na área, e onde a disciplina ainda é dada por "garimpeiros" de carga horária ou professores que tenham habilidades manuais e que acham que o Ensino de Arte se resume só no fazer artístico, sem contextualização. Enfim. É acertar e errar.

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